18 de jan. de 2010

O caso Daslu II

Uma breve história e análise da ascensão e queda do maior empreendimento de luxo do Brasil


Alguns exemplos no manejo destes detalhes são amplamente conhecidos e foram incorporados ao folclore que cerca a loja. O principal deles: as vendedoras da Daslu sempre foram jovens da sociedade paulista, com sobrenomes tão ou mais tradicionais que os das clientes que atendem. Frise-se: tão ou mais tradicionais. Diferentemente do que se possa imaginar, a função das vendedoras socialites não é só proporcionar familiaridade de atendimento às clientes da velha sociedade paulistana, como também ajudar na socialização daquelas recém-incorporadas ao universo da elite. Eram elas que acolhiam os novos-ricos que, sem passado e sobrenome, recorriam à loja na hora de comprar seus primeiros símbolos de ingresso na alta roda. Nos corredores da Daslu, dois mundos se encontravam: o dinheiro antigo recepcionava o dinheiro novo, ensinando-lhe o que comprar, como vestir e quais marcas idolatrar. 

Outro exemplo de cuidado com o simbolismo que envolvia a loja: a Daslu registrava todas as peças vendidas em computador, anotando quem e quando comprou - tudo para evitar que duas clientes da loja vistam a mesma roupa numa festa. 

Detalhes como estes ajudaram a criar uma "cumplicidade elitista" entre loja e clientes, promovendo a sensação de pertencimento a uma comunidade que, a despeito das origens diferentes, tinha no luxo seu denominador comum, sua semelhança gregária. Hoje, chama-se isso de "comunidade de marca", expressão da qual Eliana nunca deve ter ouvido falar, mas que conseguiu implementar à perfeição.

Talvez nunca se tenha dado o destaque merecido, mas a Daslu é um dos maiores cases de marketing da história empresarial brasileira. Inevitável mencionar o que aconteceu depois - Operação Narciso e afins - e difícil especular sobre o que ocorrerá a partir de agora. De toda forma, estamos assistindo à derrocada de um símbolo do bom marketing brasileiro - e, infelizmente, dos piores vícios do país também.

http://www.amanha.com.br/
André D'Angelo 

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